A NEGAÇÃO DA ARTE E DA INFÂNCIA EM ROUSSEAU: O CASO DOS CASTRATI
Palavras-chave:
Castrati; Infância; Arte; Perfectibilidade; Música.Resumo
Este trabalho busca discutir o caso dos castrati, algo que teve historicamente influência direta na música vocal europeia, e que consistia em crianças castradas para manter a voz infantil, ou como diziam: a “voz da pureza”. À luz das reflexões de Rousseau, o caso pode ser considerado como negação da infância e desvio dos objetivos da arte. Se por um lado os castrati formam um estado de sublimação desde a sua criação no século XVI até a sua derrocada no final do século XIX, por outro lado a crítica de Rousseau, formulada sobretudo no Discurso sobre as ciências e as artes, pode ser parametrizada pela erudição em detrimento ao corpo humano, o qual é mutilado para conservar o que por natureza é mutável, a voz infantil. Tanto a palavra “mutilado” quanto a “mutável” nascem da mesma origem etimológica que é o “muto” que significa “mudar” e cabem dentro da perspectiva rousseauniana da perfectibilidade. Com base no Emílio, tenta-se investigar como se dá a mudança do corpo na fase infantil para o desenvolvimento pleno sem ser mutilado. No Livro Primeiro é bem conhecida a crítica de Rousseau sobre a criação das crianças de seu tempo, a qual depõe contra a aberração dos castrati sob a astúcia deformatória da beleza da arte como negação da vida. Para tanto, além do Emílio será utilizado o Dicionário de Música no qual se encontra o significado da palavra Castrato para estabelecer os princípios que o leva a pensar a arte como deformadora do corpo em prol de uma ciência que inviabiliza a infância.
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