O curso do rio, o discurso das palavras

Autores

  • Marcelo Brito da Silva Universidade Federal de Mato Grosso – UFMT

Resumo

Resumo: O presente trabalho propõe uma análise do poema "Rios sem discurso", de João Cabral de Melo Neto, numa perspectiva comparada com o poema “Metassoneto ou O computador irritado”, de José Paulo Paes, na qual são acionados teóricos como Jorge Luís Borges (2000), Alfredo Bosi (1977), Roman Jakobson (2003), Octavio Paz (1982), Paul Valéry (1999), entre outros. Os dois poemas são lidos como meta-poemas porque tratam do fazer poético, numa abordagem que permitiu as seguintes conclusões: As estrofes estanques do metassoneto de Paes representam outra maneira de expressar os poços de água de Cabral, cortados, isolados, fios abortados da corrente do rio que já não mais comunicam nem vencem a sede da intransitividade. O computador irritado de Paes corresponde ao rio violentado de Cabral, que consiste numa metáfora para o discurso das palavras. A técnica descarnada de poesia leva ao onomatopaico e vazio blablabla (Paes) que não emociona, que não suscita o prazer e o espanto próprios dos textos tocados pela poesia. Por sua vez, Cabral reflete sobre sua matéria prima, as palavras, do ato mesmo da confecção poética, fazendo com que o leitor adentre num universo auto-referencial e intra-reflexivo, do qual não escapa uma discussão filosófica sobre a própria natureza poética.

Palavras-chave: João Cabral de Melo. José Paulo Paes. Metapoema. Discurso. Poesia.

 

Abstract: This work is an analysis of the poem "Rios sem discurso", by João Cabral de Melo Neto, compared to the poem "Metassoneto ou O computador ritado", by José Paulo Paes, based in critics like Jorge Luis Borges (2000), Alfredo Bosi (1977), Roman Jakobson (2003), Octávio Paz (1982), Paul Valéry (1999), among others. Both poems are here read as meta-poems, because they talk about writing poetry. We reached the following conclusions: The isolated stanzas in Paes’s meta-sonnet represent another way to express Cabral’s wells – cut, isolated, aborted threads in the river that no longer communicate or beat the thread of intransitivity. Paes’s irritated computer corresponds to Cabral’s violated river, which consists in a metaphor for the discourse of words. The meager poetic technique leads to the onomatopoeic and empty blablabla (Paes) that does not move, does not bring the pleasure or estrangement expected from poetry. At his turn, Cabral reflects about his raw material – words in the making of poetry –, leading the reader into a self-referential and intra-reflexive universe, which involves a philosophical discussion about the nature of poetry.

Keywords: João Cabral de Melo; José Paulo Paes; Meta-poem; Discourse; Poetry.

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Publicado

2018-10-13